A água é só uma de muitas dificuldades enfrentadas por moradores de comunidades em Barra Longa-MG

Ananda Ribeiro / GNI

Barra Longa é um município que fica cerca de 80 km de Mariana-MG e também foi atingido pela lama após o rompimento de barragens da empresa Samarco. Devido à tragédia, os olhos do Brasil estão sobre essa região de Minas Gerais, mas esse local enfrenta outros tipos de dificuldades há muito tempo.

Histórica cidade do interior de Minas, Barra Longa possui alguns distritos como o Bom Sucesso. A moradora Fátima da Silva Leal do Carmo, de 37 anos, diz que seu cantinho “é muito bom, os moradores são muito bons, todo mundo respeita todo mundo, se alguém precisa de alguma coisa tem todo mundo para ajudar. É uma comunidade unida. Todo mundo tem seus problemas, mas aqui é muito bom”. A queixa de Fátima é sobre a água que, segundo ela, é suja.

Janete Padula da Silva, 45, também mora em Bom Sucesso e coordena uma equipe de bordado na região de Barra Longa, um trabalho terceirizado. Recentemente, ela teve um ato de revolta. “Sempre tivemos problema com água. Faz pouco tempo, eu peguei uma água, coloquei no litro (garrafa) e levei para o prefeito. Não cheguei a falar com ele, mas falei com uma pessoa que trabalha com ele. Perguntei: ‘Você teria coragem de escovar seus dentes com essa água, fazer uma comida, lavar uma roupa?’ E o que ele fez com aquilo? Nada. Não me deu resposta e nem mandou arrumar”. Janete disse que até pouco tempo atrás, os bois tomavam a água antes de chegar à população. “Não podiam cercar, porque os bois precisavam beber água”, comentou.

Para consumir água limpa, Janete precisa ir até a vizinha que tem bomba. “Ela arranja água para a gente colocar no filtro. Eu não estou falando do atual prefeito, nem do que passou nem do que vai vir. Nunca teve uma água boa aqui em Bom Sucesso”.

Outra dificuldade da comunidade é a estrada. “Começa a chover, o ônibus não vem, porque não tem estrada para passar. Tanto daqui para Barra Longa, quanto daqui para Ponte Nova”, outro município próximo. “A gente fica meio esquecido aqui na comunidade”, desabafou a moradora.

A água e a estrada também são problemas em outro distrito do município, chamado Bonfim. Cristina Leonel da Silva, 30, mora ali há 14. Veio de São Paulo, capital, quando o pai se aposentou. Ele era de Mariana, e a mãe, de Barra Longa. Cristina conta que no início teve um pouco de dificuldade de se adaptar ao novo lugar. “Tem pouca gente e não tem muita coisa igual em São Paulo. Aqui, para a gente ter alguma coisa, temos que ir à cidade, então fica mais difícil. Eu gosto muito de morar aqui pela tranquilidade. A violência que tem lá… Aqui, nossa! A gente pode deixar a casa aberta a hora que quiser. Lá… você já sabe como é, né?”, comparou.

Cristina comentou que, assim como em Bom Sucesso, a comunidade do Bonfim tem duas fontes de água: uma limpa, do poço artesiano – que depende de uma bomba de água – e uma não tão limpa assim – a da “fazenda”. “A da Copasa (empresa de água que administra o poço artesiano) a gente paga. Cada casa paga ‘tanto’ de luz. E essa da fazenda é amarela, a gente não sabe a situação, mas mesmo assim a gente estava usando, porque não tinha outra água. Graças a Deus, conseguiram arrumar a água, mas se chove, se dá algum relâmpago e queima a bomba, a gente vai ficar sem água de novo”. A moradora contou que quando a bomba queima precisa ir um técnico ao local, o que é difícil. “Ficamos dois meses sem água, os meninos estavam tomando banho no córrego. A gente fervia a água e colocava no filtro. Para poder fazer comida a gente pegava água da fazenda, mas amarelinha, amarelinha, amarelinha…”, afirmou.

A escola da comunidade – que Cristina, mãe de duas crianças, afirmou ser ótima – não está funcionando. “Falaram que o telhado estava em péssimas condições, que iam arrumar, mas desde o começo do ano até hoje… Aí a gente colocou as crianças para estudarem em Barra Longa. Mas desde quando começou essa coisa (da lama), eles estão sem aula”. Entretanto, segundo a moradora, o problema acontece sempre quando chove, “porque não é qualquer carro que anda nessas estradas”, então o transporte não busca as crianças. A escola do bairro também serve como local de atendimento quando médicos ou agentes de saúde vão até o Bonfim.

Com todas as dificuldades, o sorriso de Cristina demonstrava esperança e uma alegria pacificadora de quem ama o seu lugar. Além da boa convivência com os vizinhos e da tranquilidade, ela gosta de mais uma coisa em seu bairro: “Aqui tem muito pé de fruta, onde você vai você acha pezinho de fruta”. Gargalhou.