Jovem visitaria irmão que não via há dois anos, mas preferiu enfrentar a tragédia junto com seus conterrâneos em Barra Longa

Ananda Ribeiro / GNI

O rompimento de barragens da Samarco em Bento Rodrigues, distrito de Mariana-MG, atingiu vilarejos que ficavam à margem do rio. A lama, que chegou até o Espírito Santo, passou pelo município de Barra Longa, em Minas, onde invadiu casas, estabelecimentos comerciais e destruiu a principal praça da cidade, tendo atingido mais de dois metros de altura.

Segundo Pedro Bezerra, missionário da organização Jovens Com Uma Missão (JOCUM) e líder de uma equipe de voluntários, os moradores relataram que foi uma noite de terror. Avisados de que a lama chegaria à Barra Longa, eles se reuniram em local público durante a madrugada, sem saberem qual seria a intensidade da enchente, até onde atingiria e o que deveriam tirar de suas casas.

A tragédia comoveu voluntários de várias partes do país, que vieram ajudar com a retirada de lama e limpeza das casas, distribuição de cestas básicas, roupas e água. Raíssa Ferreira Carneiro, 26 anos, é uma dessas voluntárias, mas ela é de casa. Natural de Ouro Preto-MG, mora em Barra Longa há 16 anos. Recebeu a notícia do desastre quando estava indo visitar um irmão que não via há dois anos. “Eu estava na rodoviária de Belo Horizonte, faltava meia hora para o ônibus passar. Recebi a ligação de que a barragem se rompeu e a lama estava chegando aqui, mas que eu não precisava me preocupar, porque minha casa não foi atingida. Na hora me gerou um sentimento de me colocar no lugar das pessoas que conheço, que eu convivi esses anos todos. Voltei no primeiro transporte para Barra Longa, para ver o que podia ser feito”, contou.

Raíssa afirmou que o município nunca presenciou um fato como esse. “Quando cheguei na cidade, senti uma angustia muito forte e tive que lidar com essa situação. Mas isso está me melhorando como pessoa, porque estou me colocando no lugar do próximo e estou me aliando aos grupos voluntários. Isso está me ajudando muito e eu posso ajudar também”. Segundo ela, “as pessoas estão vulneráveis emocionalmente, mas ainda assim tem alguns voluntários da cidade. E os de fora estão dando um suporte. Aqueles com quem conversei demonstram ter uma fé, uma preocupação com o próximo, e isso motiva, né?”.

Apesar das perdas que a enchente de lama gerou, Raíssa consegue enxergar o lado bom. “Gerou um transtorno, mas também gerou mais união, um despertar da fé, algum costume que não estava sendo legal a pessoa mudou de hábito, quem tinha alguma desavença está procurando se reconciliar, então está havendo mudança”, relatou com um olhar de esperança.

Além dos holofotes do acidente, a moradora conta que Barra Longa é uma cidade com uma rotina bem suave, não tem muito fluxo de pessoas, não tem ônibus, “porque é tudo mais pertinho, é uma cidade com muitas tradições. É uma cidade histórica, com muita religiosidade. Tem alguns mitos, algumas lendas… Eu não me identifico muito, mas faz parte da população”, ela disse.

De todos os problemas que vieram com a lama pelo rio, Raíssa acredita que o mais grave deles é o fator psicológico, “porque estamos sempre precisando de algo, sempre em busca”. Ela agradeceu a Deus pelo dom da vida, “porque eu creio que o que está me sustentando é a graça dele. Eu estou sentindo muito, porque é a minha cidade, são as pessoas que eu conheço. Quero agradecer aos voluntários também, todos vocês que tem me dado muita motivação. Tem doações de mantimentos, roupas e a fraternidade… Isso é muito importante”, concluiu.